Resenha - Prisioneiras








Prisioneiras
 
Autor: Drauzio Varella
Editora: Cia das Letras
Gênero: Literatura Brasileira / Estudos Sobre a Mulher
Páginas: 280

Avaliação:



Olá, tudo bem?

Já li vários livros do Doutor Drauzio Varella e também gosto muito do seu jeito de escrever e a vivência dele com presos, agora dessa vez ele fala sobre as presas.

Mulheres que na grande maioria das vezes resolvem ajudar seus maridos, companheiros ou namorados e quando são presas são esquecidas lá dentro.

O livro é dividido em vários capítulos curtos contando sobre a vida de algumas presas que ele atendeu em seu consultório dentro do presídio em São Paulo unidade do Carandiru Feminino.
 
Zilda é umas da primeiras histórias, foi presa por matar seu cunhado que desrespeitou sua irmã, tem presas que faz justiça com a própria mão e acaba estragando a vida por anos e anos dentro de uma prisão.

Página 37 
- Quem tem vários cunhados devia ter o direito de matar um. Só a partir do segundo seria considerado crime.


Além de histórias aleatórias de várias presas, Doutor Drauzio também relata as diferenças entre o presídio feminino e masculino, inclusive a visita íntima em presídio feminino demorou 20 anos para ter, depois que já tinha no presídio masculino.

O número de relacionamento lésbico dentro das celas também é praticamente 100%, seja por carência, seja por curiosidade ou para se salvar também, o relacionamento entre as mulheres precisa haver respeito apenas dentro das celas, quem se relaciona fora é totalmente proibido.

Em relação as visitas que se recebem também é totalmente diferente da dos homens. Enquanto em um presidio masculino a visitas podem chegar até 5.000 mil pessoas, no feminino se tiver 20 pessoas para entrar é considerado muito.
 
Página 38

Enquanto estiver preso, o homem contará com a visita de uma mulher, seja mãe, esposa, namorada, prima ou a vizinha, esteja ele num presídio em São Paulo ou a centenas de quilômetros. A mulher é esquecida.

Dr Drauzio também nos alerta para os problemas da sociedade que se repetem devido a pobreza, violência, drogas e infelizmente muitos casos se repetem devido as essas situações.

Página 51

Ficamos chocados com a menina grávida em idade tão precoce, mas não levamos em conta que outras gestações acontecerão em condições semelhantes: pobreza, ignorância, habitações precárias e superpovoadas, alcoolismo, crack, violência doméstica e convívio com os marginais da vizinhança.
No presídio feminino como é muito comum as mulheres serem esquecidas pela família, é muito comum elas desistirem de sair de lá, pode ser pelos mais diferentes motivos, mas caso alguma detenta não saia e não dê valor a sua liberdade, lá dentro ela é condenada por isso. Não pode ficar deitado, recusar comida, ou até mesmo abrir mão de algum benefício, mesmo que não tenha para onde ir, quando ganhar a liberdade precisa respeitar as leis e dar valor a todas elas.


Página 73

Na cela, dormem dois ou três dia consecutivos; as companheiras precisam despertá-las na hora das refeições. Seguem-se alguns dias de irritabilidade, até se acalmarem. Ninguém enlouquece, briga ou atenta contra a própria vida. Muitas nem se quer se aproximam da cocaína que lhes é oferecida; no máximo aceitam um baseado. As fumantes se queixam de que é muito mais difícil de se livrar das garras da nicotina, droga causadora de crises irresistíveis de abstinência.
Dr Drauzio conta que em uma das consultas uma mulher já mais idosa estava com feridas na virilha pediu para usar roupas mais secas deixar seca a região, e a senhora disse que não tinha outra peça íntima de roupa para trocar era só uma e ainda usava molhada sem tempo para deixar secando.
 
Página 96

- Não consigo, só tenho uma calcinha . Lavo, torço e visto outra vez.


A solidão da família ou de pessoas conhecidas que abandonam a mulher quando ela é presa faz elas sofrerem o dobro quando vão presas. Não ter ninguém conhecido para receber uma ajuda, e infelizmente o número de mulheres cresce cada vez mais.

Página 137

O envolvimento com o tráfico fez explodir o aprisionamento de mulheres brasileiras: crescimento de 567% no período de 2000 a 2014. Nesses catorze anos, a população carcerária feminina no país aumentou de 5.600 mulheres para 37 mil.

Apesar do livro falar mais sobre as mulheres, ele aborda algumas coisas de como funcionava o antigo Carandiru Masculino, e imagine você ter que controlar segurar suas necessidades físicas porque não é o seu dia de ir ao banheiro.

Página 145

Nas trocas de turno podiam urinar no vaso sanitário da cela; esvaziar os intestinos, apenas as quartas e sábados, quando quando eram liberados para tomar banho nos chuveiros coletivos. Ai daquele que perdesse o controle no dia errado.


Claro que o presídio não tem apenas mulheres inocentes que foram na onda de seus maridos, também tem mulheres que matam porque querem e sentem prazer, as vezes encontramos algumas justiceiras por conta própria que fazem justiça com a própria mão.

Página 192

- Fiquei parada lá um tempão, admirando o sangue que escorria pelo meio das pernas dele e o sofrimento daquele desgraçado. Foi o primeiro dos cinco estupradores que matou nos dois anos antes de ser presa.
Mas o assunto principal é o caminho sem volta a ilusão que roubar, matar, ou vender drogas traz dinheiro fácil. as consequências são piores, ficar preso sem nada, sem visitas, sem o básico de itens de higiene e achar que fez algo de bom para seu futuro fica apenas no pensamento.

Página 197

Desde os tempos do Carandiru, insisto com os traficantes que o comércio de drogas ilícitas só dá lucro para investidores que nem chegam perto do produto, agentes financeiros especializados na lavagem dos lucro obtidos e policiais desonestos . Para quem vive do tráfico miúdo nas ruas , correndo o risco de encontrar a morte na esquina, o dinheiro traz a sensação ilusória de que a pobreza ficará lá trás, sonho que evapora ao cruzar o portão da cadeia.


Dr Drauzio também expõe seu ponto de vista, falando sobre como os homens deveriam ser mais punidos quando sua mulher é encontrada com droga ou celular na cadeia. O número de detentas por "ajudar" seu parceiro com droga é enorme e só vem aumentando cada vez mais.

Página 209

As mulheres-ponte flagradas todos os fins de semana nas portarias poderiam ser condenadas a penas alternativas e a sanções administrativas, como a proibição de entrar nos presídios do estado. O preso a quem se destina a encomenda poderia ser punido com a perda de benefícios e a extensão da pena.Qualquer solução seria mais sensata do que a atual: elas vão para cadeia, os filhos ficam abandonados em situação de risco e o homem que encomendou a droga arranja outra ponte para manter o fluxo de caixa.

Enquanto sua parceira é presa ao tentar ajuda-lo com eles não acontecem nada, e ainda conseguem achar outra pessoa para ajudar a entrar com a droga ou celular.

Se quer um livro para saber mais sobre esse mundo, ver outras visão de vida recomendo com toda certeza!

Um livro que apesar do assunto pesado é escrito de forma leve e faz a gente refletir em muitas coisas, como reclamamos por tão pouco quando uma pessoa que por mais que tenha errado está pagando pelo erro mas de uma maneira bem pesada.

Beijos

Até mais!


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