[Resenha] O Retorno (Victória Hislop)

Editora: Intríseca
Autora: Victória Hislop
Categoria: Romance
Páginas: 408

Certa vez ouvi dizer que a guerra é um mal necessário. Mas, necessário pra quem? Quem ganha numa guerra?

As guerras sempre foram uma constante por assim dizer, da história da humanidade, quando pessoas nobres das nações começaram a germinar em suas mentes a ideia de domínio expansivo, onde a conquista compulsória de terras dizimava a população nativa do local-alvo.
No segundo romance de Victoria Hislop (o primeiro foi "A Ilha". Veja a resenha aqui), Ela narra em pormenores as atrocidades de uma guerra civil devastadora. A guerra espanhola durou 3 Anos. De 1936 até 1939. Acabou por se expandir por mais tempo, uma vez que o ditador Franco venceu a disputa e governou pelos quase 30 anos seguintes. A guerra não tinha intenções de expansão territorial mas de dominar e impor regras ditatoriais sobre um povo e terra já "conquistados" e existentes.

Mais uma vez a autora se centra inicialmente numa personagem feminina, Sonia: Órfã de mãe, filha única, casada e infeliz num matrimônio em que o cônjuge mais se preocupa com a vida laborial e social de que a afetiva. Ela parte numa viagem de ida e volta à Europa com sua amiga Maggie. Desembarcam mais precisamente em Granada, na Espanha. Participam de aulas de dança latinas e se encantam pelo flamenco. Durante seus passeios solitários, Sonia encontra um velho bar chamado "El Barril", onde o atual dono, um senhor idoso cahamado Miguel, se encanta pela jovem e ela idem. Apesar da pouca troca de palavras eles se envolveram emocionalmente, embora não de forma romântica. As idas e vindas da vida fizeram Sonia retornar a Espanha e reencontrar Miguel. Uma conversa entre eles que durou todo o dia fez regressar à história original do "El Barril" e da Guerra Civil Espanhola. Nacionalistas versus Republicanos. Somos apresentados à Família Ramírez onde o casal genitor, Pablo e Concha tem 4 filhos, Emílio, Ignácio, Antonio e Mercedes. Cada um com seus defeitos, qualidades e preferencias. Quando a guerra teve início, o páis se fissurou bem como a Família Ramírez. Cada membro dela deixava claro de qual lado estava no conflito o que com o decorrer da história determinou o fim de cada um deles.

É profundamente triste como a Guerra é capaz de desfazer um país, um estado, uma cidade, uma família, assim como o vento leva embora as pétalas de uma flor uma por uma. A decadência moral, a falta de critérios, o horror, o sangue, a fome, o êxodo, a morte.
É na personagem de Mercedes que a maor parte do livro se concentra. A busca dela pelo amor efêmero de Javier em meio a um país esmigalhado pela guerra. Essa busca parece soar, em certa altura do livro, um tanto absurda mas foi essencial para descrever a expansão do pavor bélico dentro de toda a nação, bem como a surpresa um tanto previsível no final do livro.

Victoria recria com perfeição o que foi aquela época, desenvolveu cada personagem com maestria. Cada um deles fica gravado e marcado em nossa memória após o fim do livro. É possível sentir a dor de uma mãe ao perder o filho, a barriga roncando de fome, o barulho dos aviões carregados de munições mortais e o temor de ouví-los se aproximar. É possível sentir as paredes úmidas de uma prisão e seu odor fétido, e o vazio de uma solidão que só uma guerra é capaz de trazer. Uma dor que quando acha que cicatrizou é capaz de logo depois abrir uma outra chaga dolorosíssima. Incurável.

No início da resenha uma pergunta foi escrita: Quem vence numa guerra? A pergunta na verdade, deveria ser outra: Há, de fato, vencedores numa guerra? Na página 308 do livro, um trecho da vida de um dos filhos de Concha Ramírez, Antonio, responde esta pergunta. A resposta é obvia. Não existem bons ou ruins numa guerra. Muito menos vencedores. A descrição rápida da autora sobre uma morte durante um combate corpo a corpo leva o leitor a entrar na mente de Antônio e ver que existem assassinos e assassinados dos dois lados.

O retorno é um livro intenso e incômodo. Retrata a realidade de uma forma crua e ás vezes afetiva. Afinal, como narrar de maneira equilibrada sobre guerra, esperança e resignação? Apenas mesclando o horror com a doçura. Um paradoxo que apenas uma boa narração literária pode proporcionar. A dança flamenca, na qual Mercedes é uma virtuose, funciona como uma morfina nos momentos de maior desesperança. As doçuras. Hislop mostra que na dança da nossa vida é preciso saber os passos, acompanhar a melodia e saber o momento exato de parar, sem esperar ouvir os aplausos da plateia.

Frase do Livro:
"Eles podem escravizar meu corpo - disse o professor - mas minha alma me pertence." Pág 335

SINOPSE:
Quando o passado retorna ao presente, o futuro se torna ainda mais imprevisível. E, nesse livro, redentor. Sonia Cameron está na Espanha, em férias, para comemorar o aniversário de 35 anos da melhor amiga com aulas de flamenco. Sua intenção é apenas dançar e se divertir. Em Londres, deixou a aridez e as exigências do cotidiano e um casamento em crise.
Em um café sossegado de Granada, contudo, uma conversa casual com o proprietário e uma intrigante coleção de fotografias antigas a atraem para a história extraordinária da Guerra Civil Espanhola e da vida de personagens locais encantadores e marcantes, como toureiros, dançarinas, músicos e o poeta García Lorca. Setenta anos antes, o café era o lar dos Ramírez, família que, em 1936, presencia as piores atrocidades do golpe militar liderado pelo general Francisco Franco, e vivencia o despedaçar do frágil equilíbrio do país. Divididos pela política e pela tragédia, todos escolhem um lado e travam uma batalha pessoal à medida que a Espanha se dilacera. O retorno é uma cativante e complexa lição sobre perdas e lealdade, narrada em um contexto histórico fascinante e muito bem-construído. Encantador e profundamente comovente, o segundo romance de Victoria Hislop é tão inspirador quanto sua obra de estreia, o best-seller internacional A ilha.



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