As Sirenas de Bagdá


Em março de 2003 o mundo assistiu pela primeira vez o início de uma guerra ao vivo pela televisão.Tio Sam invade a antiga Potência Mundial, Babiblônia, atualmente conhecida como Iraque e na época famosa por ter um ditador bélico e virulento. Saddam Houssein. Os efeitos dessa intromissão internacional são sentidos até hoje. Mas "sentidos" de que forma? Somos insensíveis a tudo aquilo que desconhecemos. 6 anos atrás o filme Paradise Now mostrou de forma intimista o que leva homens árabes, sadios e jovens a atarem em seus ventres uma quantidade de pólvora suficiente o bastante para levar aos ares pessoas a quem julgam vermes, merecedores da morte e do sofrimento em consequência de seus próprios atos odiosos contra seus inimigos. Desta vez, os inimigos se vingam.

Em "As Sirenas de Bagdá", Yasmina Khadra narra em primeira pessoa o passo a passo de um cidadão iraquiano, inocente nas ações e nos pensamentos. Morador de uma cidade no interior do país, que mal sentia a incômoda invasão americana em seu território e que também não fazia muita questão de percebê-la. Viviam num marasmo completo que o autor fazia questão de contar por meio da falta do que fazer naquele meio de mundo. Onde bares e barbearias ridículos e antigos se transformam nos escassos meios de encontrar pessoas e jogar conversa fora. Parecia até que a guerra nacional e a recente prisão de Saddam soavam como algo animador, um sopro de novidade numa região que nada acontecia.

"Conforme um provérbio ancestral, se você fecha as portas aos gritos do vizinho, eles entram pela janela, pois ninguém está protegido quando a desgraça está vagando sem destino". É com esta frase que o autor nos introduz a dois acontecimentos marcantes e sanguinários que foram decisivos para abalar a estrutura pacata e morna tanto da cidade de Kafr Karam quanto do jovem inocente, personagem central da história. Inflamado de cólera, ele parte de sua cidade numa viagem sem volta em busca de vingança e de uma forma de extravasar todo rancor e ódio de si mesmo. Ódio de perceber a sua impotência diante da barbárie que acontecia a frente de seus olhos. Foi-se, mesmo com apelos afetivos de seu primo Kadem e sua irmã, Bahia. Foi-se para Bagdá. Capital do Iraque.

O que aquele jovem não esperava era que Bagdá não era a Bagdá que imaginava. Seja geograficamente, economicamente e principalmente moralmente falando. Sua irmã mais velha que havia tido coragem de sair de Kafr Karam anos antes e se formar como médica foi sua primeira surpresa. Apesar da ajuda de Omar, outro conterrâneo que vivia na capital e tentou mostra-lhe hospitalidade, O jovem continuou atrás de seu objetivo de vingar sua cidade, sua família, sua honra. Tanta determinação e a falta de trabalho na capital havia de fazer cruzar sua estrada com a estrada de Sayed, micro empresário de negócios taciturnos, que também era de Kafr Karam. Um emprego oferecido por Sayed foi a porta de entrada do Jovem para ser membro de uma antiga disputa da história do Oriente. A partir de então ,acompanhamos a escalada progressiva do Rapaz dentro da Organização até receber sua missão sem deixar de nos comover com o destino de alguns personagens que passamos a admirar. Observamos a total indiferença de um povo que se aquiesceu e acostumou-se com a desgraça, com explosões, com o cheiro de sangue, de fumaça, de morte. Um povo que em determinados momentos nem sequer enterra seu mortos; expostos nas ruas ou em cima das árvores, tamanha força dos explosivos.

No contexto do livro, não há inocentes ou culpados. Yasmina se isenta até mesmo de nos informar o nome do personagem principal da história, que jamais é mencionado por outro personagem. É no diálogo entre o Dr Jalal e Mohamed, dois intelectuais Árabes anteriomente amigos, porém agora defensores de opniões paradoxais, que Yasmina nos deixa entender essa resolução. O autor mostra que não nos cabe tomar um lado, porque a guerra não é nossa. Não nos pertence. É deles. Quando nos intrometemos em assuntos alheios, mesmo com boas intenções, temos uma tendência de impor nossas próprias opniões, sendo que essas não foram solicitadas. É nosso dever ajudar. Não, invadir. Por mais que achemos que os outros tem problemas graves, não devemos esquecer que o porblema é deles. Eles tem de resolver. Só nos permite ajudar quando tal ajuda é solicitada. Isso não nos isenta, claro, de uma parcela de culpa uma vez que a omissão também é um crime. Mas como reconhecer a linha que divide o nosso direito e o direito dos outros?

Trecho do livro: "Mas não os deixarei pôr nossos erros nas costas de Saddam. Era um monstro, sim, mas um monstro nosso, de nosso sangue, e todos nós contribuimos para sua megalomania." Pág 38.

Título: As Sirenas de Bagdá
Autor: Yasmina Khadra
Ano: 2007
Páginas:304

6 comentários :

  1. parece ser legal, mas acho que nao leria sabe
    nao é mt meu estilo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Td bem, Alice. Nosso blog é pra todos os estilos... Vlw pelo coments!

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  4. Olá Thiago! Histórias de guerras sempre me interessam muito, mas só tenho conhecimento mais aprofundado sobre a Segunda Guerra Mundial. Gostei muito de sua resenha desse livro e confesso que fiquei com certa vontade de ler. Histórias reais são muito bacanas pra gente ver e aprender com o que passou, né?!
    Obrigada pela dica! >^_^<

    Beijinhos!

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  5. Oi, Amanda. Que bom q gostou da resenha. Abraços e volte sempre!

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  6. Excelente livro... já pedi os outros dois dele; As andorinhas de cabul e O atentado.

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